dinheiro é uma motivação para trabalhar...
Esta é a verdade, nua e crua, despreocupada e talvez um pouco inquieta; e as verdades nunca são interessantes ou eloquentes. Algures na nossa história estabeleceu-se o contracto social que a verdade tem de ser acompanhada de mil e uma razões; criámos à volta desta palavra um discurso de vergonha e culpa. Porque está a nossa sociedade aterrorizada da verdade? Porque será a verdade considerada insensível, inoportuna ou inconveniente?
Será a resistência à verdade, da parte de diversas instituições culturais, a razão pela relutância em reconhecer e trabalhar os discursos emergentes que caracterizam as “novas” verdades e teorias? Nas vária instituições culturais onde trabalhei, sentia o ciclo vicioso e perigoso onde novas perspetivas, viessem de dentro ou existem-se lá fora, eram ignoradas e empurradas, consideradas despropositadas para os espaços culturais. Os diversos públicos eram reconhecidos, mas não existia um esforço real para enquadrar as suas vozes e os seus corpos no espaços das instituições: estas comunidades eram alienadas e impedidas de legitimar no espaço público e político a sua própria cultura e identidade.
Se me estabelecer nesta vaga pretendo juntar-me à comunidade que racha este véu que encobre e demoniza uma parte tão grande e essencial da nossa sociedade. Quero encontrar novas abordagens e mudar de perspectiva, de identificar novas vozes e reconhecer o seu valor, de legitimar corpos invisíveis e trazê-los para o centro. O Teatro do Bairro Alto é um desses centros, no coração da comunidade é um espaço de acessibilidade e inclusão. É um palco intersecional de culturas, identidades, géneros, classes, etc onde gostava de ver colectivos disruptivos, grupos intergeracionais e/ou interculturais, e muito mais.
p.s. esta foi uma das minhas cartas de motivação para uma candidatura à cultura em Portugal.